As Cinco Qualidades do Profissional de Sustentabilidade
Julio F. Campos
Neste artigo vou abordar quais qualidades um profissional
possui para trabalhar com sustentabilidade.
Como uma rápida busca na internet resulta em uma boa quantidade
de textos semelhantes, decidi abordar o tema através de outro viés. Facilmente
alguém irá encontrar recomendações sobre o perfil considerado ideal para atuar
em sustentabilidade, entretanto esse perfil é o perfil considerado ideal pelo
mercado corporativo. Por este e outros motivos, não vou abordar o perfil do profissional de "sustentabilidade"corporativo.
Não farei então uma comparação entre este
profissional e o perfil buscado pelo mercado, uma rápida busca na internet
permite localizar o último. Deixo para o leitor fazer esta análise autocrítica.
Frequentemente vejo recém-formados em diversas áreas ambientais insatisfeitos com seus trabalhos, pois não podem executar as propostas que sabem serem necessárias, tendo que se moldar às necessidades da empresa e não da sustentabilidade.
Aqui então apresento o perfil de um profissional
adequadamente qualificado pela academia.
Quais são as características de um profissional
adequadamente formado para trabalhar em sustentabilidade então.
- Multidisciplinaridade:
Característica básica fundamental sem
a qual não é possível atuar no tema. A sustentabilidade envolve todas as áreas
do conhecimento e, sendo obviamente impossível conhecer todas, é necessário que
o profissional se mantenha constantemente em busca de novos conhecimentos, para
si e para poder se comunicar com aqueles de outras áreas.
O resultado é a
capacidade de observar um determinar problema através de amplo prisma, visualizando
suas mais variadas implicações.
No entanto como a multidisciplinaridade nem
sempre é corretamente compreendida, segue um exemplo de uma formação não
multidisciplinar.
Considere a formação do profissional como uma torre em que
cada nível representa a aquisição de uma nova formação/conhecimento. Ser
multidisciplinar implica obrigatoriamente em possuir formações e conhecimento que
não são vinculados ou derivados das adquiridas no nível anterior (idealmente
a formação deveria se assemelhar à uma pirâmide invertida, mas poucos fora da
academia possuem tempo para tal).
Assim, uma pessoa formada em administração, ao
realizar no próximo nível um MBA em sustentabilidade (uso o termo sustentabilidade
de forma geral, pois vários cursos abordam o tema), buscando um tema que não estudou
em sua graduação, não estará expandido seu conhecimento, pois estudará a
sustentabilidade aplicada à administração, foco de qualquer MBA, e, portanto
dentro de sua área e formação anterior.
O resultado é a especialização no qual
o profissional chegará a uma formação, no topo de uma pirâmide, com muito
conhecimento sobre muito pouco.
A especialização é o resultado oposto da multidisciplinaridade.
- Compreensão sistêmica:
Eu tenho visto constante confusão
entre sistêmica e holística, que não são sinônimos. Holística significa ter a
compreensão que o que se trabalha faz parte de algo maior, ligado a outras
questões, a um todo. Sistêmico vai além do holístico, sendo uma forma de pensar
integrada na qual se sabe que os resultados não serão obtidos focando em um
ponto sabendo que há algo maior, pelo contrário, o sistêmico sabe que as inter-relações
entre os diferentes pontos de um problema são ao mesmo tempo causa e consequência
destes pontos e, portanto, dar atenção a apenas um ponto do problema significa não
compreender o problema integralmente.
Pode-se dizer que enquanto o holístico entende que uma moeda
possui três lados, cara, coroa e borda, mas trabalha com apenas um deles ignorando os demais, o
sistêmico trabalha não apenas com o três, mas também com as consequências que
um tem para com os demais, e ele mesmo e não apenas no espaço, mas no tempo.
A complexidade de uma visão sistêmica é muito superior a de uma holística.
- Compreensão Termodinâmica:
Como? Como assim? Você deve ter observado que esta é uma característica não encontrada em nenhum dos textos que apontam o perfil ideal para um profissional de sustentabilidade corporativo. O motivo é a falta de multidisciplinaridade.
A termodinâmica constitui
uma das mais importantes bases para se trabalhar com sustentabilidade, particularmente sua
segunda lei, a qual define a entropia (de forma simples, o desperdício de
energia de um sistema), e é utilizada nos mais diversos campos de estudo, da economia à
ecologia.
O motivo é simples. Entender a entropia implica em entender como uma
atividade afeta outra uma vez que a redução da entropia (algo positivo) em um
sistema obrigatoriamente causa o aumento em outro.
Decorre a compreensão que uma atividade positiva sempre possui resultados negativos, os quais devem ser buscados e conhecidos ao máximo possível.
- Análise crítica:
Parece óbvio que um profissional de
sustentabilidade necessite ser capaz de analisar criticamente o que lhe é
apresentado, mas infelizmente, no mercado, o oposto é a regra. É frequente
vermos profissionais aceitando e divulgando ideias e propostas as quais, sob um
estudo minucioso, não se sustentam como resultantes em sustentabilidade.
Esta atitude
resulta de uma má qualificação, conforme os itens anteriores, ou, como
veremos a seguir, de algo pior.
- Sólida postura ética e moral:
A crise de sustentabilidade é
o problema mais sério que a humanidade já enfrentou e está nos levando à extinção
certa. Portanto não é possível que um profissional da área se permita abrir mão
do que sabe ser o correto para satisfazer necessidades pessoais de reconhecimento
ou da empresa em que trabalha, frequentemente olhando para o outro lado.
É
necessário que a seriedade do profissional para com o tema esteja acima de tudo
o mais, caso contrário suas ações terão resultados negativos para si e também
para todos.
Estas qualidades permitem ao profissional avaliar de forma
ampla e crítica qualquer proposta sobre sustentabilidade apresentada, expondo
seus pontos fortes e, sobretudo os pontos negativos que o propositor ignora ou
esconde do público em geral.
Por outro lado as mesmas o tornarão persona non grata na
maioria dos círculos de “sustentabilidade” corporativa, mas afinal, como
profissional de sustentabilidade você quer ser levado a sério ou ser paparicado
por seus pares?
Você achou este artigo interessante?
Deixe sua opinião nos comentários abaixo.
Perfeito. A falta de auto-crítica daqueles que se propõem a trabalhar com sustentabilidade deriva da imposição patronal e dos objetivos de lucro de curto prazo que não foram abandonados pelo mundo corporativo. Existe uma crise enorme dos profissionais sérios da área de sustentabilidade que desistiram de trabalhar nessas empresas e bancos onde ficou evidente que nada será feito para mudar o atual projeto suicida desse mundo corporativo porque Se isso for feito grande parte dos lucros que ficam nas mãos de poucos irão desaparecer.
ReplyDelete